sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os índios invadem minha pintura

Trouxe de Belém alguns tecidos pintados por índios de duas aldeias do interior do Pará. São autênticos, portanto. Contudo, são meio falsos. Primeiro, porque os motivos, criados para pintura corporal, são transpostos para pedaços de pano. Depois, porque a tintura original, à base de urucum, foi substituída por tinta industrializada para tecidos, para não desbotar. Ainda assim, são criativos e bonitos. E trazem para o tempo presente um estágio primitivo da arte do qual estamos, há muito, afastados.
Tudo isso me fascinou nesses pequenos retalhos de pano. Comprei alguns, um pouco pelo que são, outro tanto pelo que representam. Achei que um dia eles seriam aproveitados na minha pintura. O grafismo e a geometria das linhas retas poderiam ser utilizados com certa liberdade. Não pretendia fazer colagem.
Mas acabei incorporando os tecidos diretamente na tela. E penso que consegui integrar esses traços toscos e primitivos com o racionalismo sempre presente nas minhas telas. A convivência aparentemente impossível de índios e livros, selva e cultura, instinto e razão foi, creio eu, estabelecida pelo rigor geométrico de uma ou duas linhas e uns poucos retângulos. Aí está o resultado, espero que gostem.

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