terça-feira, 28 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

sábado, 27 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os índios invadem minha pintura

Trouxe de Belém alguns tecidos pintados por índios de duas aldeias do interior do Pará. São autênticos, portanto. Contudo, são meio falsos. Primeiro, porque os motivos, criados para pintura corporal, são transpostos para pedaços de pano. Depois, porque a tintura original, à base de urucum, foi substituída por tinta industrializada para tecidos, para não desbotar. Ainda assim, são criativos e bonitos. E trazem para o tempo presente um estágio primitivo da arte do qual estamos, há muito, afastados.
Tudo isso me fascinou nesses pequenos retalhos de pano. Comprei alguns, um pouco pelo que são, outro tanto pelo que representam. Achei que um dia eles seriam aproveitados na minha pintura. O grafismo e a geometria das linhas retas poderiam ser utilizados com certa liberdade. Não pretendia fazer colagem.
Mas acabei incorporando os tecidos diretamente na tela. E penso que consegui integrar esses traços toscos e primitivos com o racionalismo sempre presente nas minhas telas. A convivência aparentemente impossível de índios e livros, selva e cultura, instinto e razão foi, creio eu, estabelecida pelo rigor geométrico de uma ou duas linhas e uns poucos retângulos. Aí está o resultado, espero que gostem.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os fantasmas da biblioteca
























Toda biblioteca é povoada por uma legião de fantasmas. Não apenas as grandes e antigas. Qualquer estante escolar ou humilde prateleira de estudante. Até mesmo uma pilha com meia dúzia de livros esquecidos num canto de mesa. Lá estão os fantasmas.
Não são espíritos de mortos, almas penadas, seres de outro mundo, crendices. São fantasmas reais que habitam as mentes de escritores e leitores: medos, traumas, fantasias, desejos ocultos, frustrações, arrependimentos, culpas, coisas imaginárias, lembranças.
Eles estão sempre presentes na riqueza da escrita e no prazer da leitura.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Malas e roupas: viagens


PERDIDO


Sempre tive um bom senso de direção. Geralmente sei me localizar, sei para onde ir. Mesmo se estou numa cidade estranha, basta olhar um mapa e memorizar algumas referências. Estou pronto para sair, andar e ir a qualquer lugar. Nunca me perco, sempre sei o caminho de volta. E nos caminhos e trilhas por onde faço as minhas caminhadas solitárias, raramente penso que posso estar no rumo errado.
Isso no lado físico, geográfico, externo. Ao longo da vida, contudo, tenho convivido constantemente com a sensação de estar perdido, de não saber direito o que fazer, não saber para onde ir, que rumo tomar, que caminho escolher. No fim, tudo acaba se encaixando, de um jeito ou de outro. Mas aqui e ali, nas relações sociais, profissionais, familiares e até afetivas, muitas e muitas vezes me senti sufocado pela velha e desconfortável sensação de estar perdido.

Então, outro dia, encontrei o seguinte texto do espanhol José Ortega y Gasset:

“O homem lúcido é aquele que... encara a vida sem temor, percebe que tudo nela é problemático e se sente perdido. E esta é a verdade elementar – a de que viver é sentir-se perdido. Aquele que a aceita já começou a encontrar a si mesmo, a pisar em terra firme. Por instinto, como fazem os náufragos, olhará em torno à procura de algo em que possa se agarrar, e esse olhar trágico, implacável, absolutamente sincero – porque se trata da sua salvação – irá fazer com que ele ponha ordem no caos da sua vida. São estas as únicas idéias autênticas: as idéias dos náufragos. Tudo o mais é retórica, pose, farsa. Aquele que realmente não se sentir perdido não tem perdão; quer dizer, nunca se encontrará, nunca enfrentará a sua realidade.”