domingo, 18 de janeiro de 2009

O sol da tarde

(Konstantinos Kaváfis, tradução de José Paulo Paes)

Este quarto, este quarto eu o conheço bem.
Agora está alugado, assim como o vizinho,
para fins comerciais: a casa toda ocupam
escritórios de câmbio e vendas, companhias.

Ah este quarto, como me é familiar.

Ali, ao lado da porta, ficava o divã
com um tapete turco à sua frente;
na estante perto, dois vasos amarelos.
À direita, não, defronte, um armário de espelho.
Bem no centro, a mesa onde escrevia
e as três grandes cadeiras de palha.
Debaixo da janela estava o leito
onde tantas vezes nos amamos.

Pobres móveis, hão de ainda existir nalgum lugar.

Debaixo da janela estava o leito;
o sol da tarde lhe chegava até a metade.
Foi de tarde, às quatro horas, que nós dois nos despedimos
por uma semana só... uma semana,
ai de mim, que se fez eternidade.

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